Oferecimento:

Logo 96FM

som+conteúdo

1920x350px.gif

Economia

Exportações do Brasil para os EUA caem 18,5% no primeiro mês do tarifaço

No geral, exportações cresceram 3,9% em agosto, com destaque para a China Foto: Anderson Coelho/Estadão

No primeiro mês de vigência da taxa de 50% aplicada pelo governo Donald Trump aos produtos brasileiros, as exportações para os Estados Unidos caíram 18,5% em agosto (US$ 2,762 bilhões), ante o mesmo mês de 2024. No ano, de janeiro a agosto, as vendas de produtos brasileiros aos EUA ainda estão em terreno positivo: cresceram 1,6%, somando US$ 26,576 bilhões. A informação é do Estadão.

Na outra ponta, as importações de produtos americanos cresceram 4,6% em agosto (US$ 3,994 bilhões), em comparação ao mesmo mês de 2024. Nos oito meses de 2025, as compras vindas dos EUA cresceram 11,4%, o equivalente a US$ 29,970 bilhões.

O resultado da balança comercial em agosto surpreendeu especialistas que esperavam uma queda nas exportações mais para frente. José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), esperava o impacto na balança comercial apenas em setembro e outubro.

A economista Lia Valls, pesquisadora associada do FGV Ibre e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), considerava a hipótese de que tivesse ocorrido um aumento das importações por parte dos Estados Unidos antes do tarifaço para formação de estoques e que essas exportações teriam sido contabilizadas em agosto, atenuando o impacto do tarifaço.

Apesar da queda nas vendas para os EUA, o resultado da balança comercial brasileira foi positiva. As exportações gerais em agosto cresceram 3,9% e as importações caíram 2%, produzindo um saldo comercial de US$ 6,13 bilhões, com avanço de 35% no mês. O destaque positivo nas exportações ficou com o aumento de 40% nas vendas para a Argentina e de 30% para China, Hong Kong e Macau.

Neste primeiro mês de tarifaço, empresas e setores tentaram de adaptar à nova realidade. Alguns até já conseguiram realocar parte da produção que era exportada para os EUA, como é o caso da carne; outros, no entanto, ainda apostam nas negociações para reduzir os prejuízos, como café e o setor industrial não foi contemplado nas regras de exceção que continuaram com tarifa de 10%.

Na semana passada, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de carnes Industrializadas (Abiec), Roberto Perosa, disse que o México já é segundo maior mercado da carne bovina brasileira, só atrás da China.

“O México é uma grande saída para o impedimento da exportação de carne bovina em grandes volumes para os Estados Unidos”, disse Perosa. Em julho, o México importou 15 mil toneladas de carne bovina brasileira. Em agosto, até o dia 25, tinham sido compradas 11 mil toneladas de carne do Brasil. Na sua avaliação, a perspectiva era repetir em agosto o resultado de julho.

O México comprava carne dos Estados Unidos e supria outra parte da demanda com produção local. No entanto, observa o presidente da Abiec, os Estados Unidos enfrentam o maior ciclo de baixa da pecuária de corte dos últimos 80 anos. Por isso, o México está importando carne bovina de outros fornecedores e o país está optando pela carne brasileira.

“Para nós, é grande a oportunidade, haverá missões também aqui do México ao Brasil para novas habilitações de plantas frigoríficas, aumentando o leque de oportunidades para as empresas brasileiras e também para os importadores mexicanos para haver esse fluxo comercial da carne bovina”, disse Perosa em visita ao México.

Recentemente, o governo brasileiro abriu três mercados para a carne bovina brasileira: Vietnã, Indonésia e Filipinas, destacou o presidente da Abiec.“Temos um sonho e o ideal é que a gente consiga exportar carne bovina brasileira para o Japão até o final do ano, isso está em negociação entre o governo brasileiro e o governo japonês.”

Perosa disse que as exportações de carne têm potencial para serem redirecionadas. “Acredito que a carne tem essa alta capilaridade, pode fazer essa redestinação para vários outros locais, claro que não ganhando a mesma margem que tinha para os Estados Unidos, mas nesse momento de negociação entre o Brasil e os Estados Unidos, a gente pode continuar trabalhando e exportando.”

No caso do café, é mais difícil um redirecionamento imediato do produto que iria para os Estados Unidos para novos mercados, avalia o presidente do conselho do Cecafé, entidade que reúne os exportadores, Márcio C. Ferreira.

Entre os fatores que dificultam o redirecionamento estão a falta do hábito de tomar café entre consumidores. Além disso, os volumes importados de café pelos Estados Unidos são significativos e somam 8 milhões de sacas por ano.

“O Brasil não tem como abrir mão dos EUA. Eles consomem 8 milhões de sacas de café brasileiro por ano e não tem como abrir novos mercados na velocidade que alguém resolve tomar café da noite para o dia”, diz o presidente do Cecafé.

Nas suas contas, as exportações de café para os EUA caíram pela metade de agosto em relação ao mesmo mês do ano passado depois que o tarifaço entrou em vigor no dia 7 de agosto. Ele diz que a retração ocorreu porque os Estados Unidos têm estoques do produto para três meses e pararam de comprar.

“É impraticável comprar café do Brasil neste momento: os preços nas bolsas estão altos e tem a tarifa de 50%”, observa Ferreira.

Por conta, da quebra de 10% na safra brasileira de arábica deste ano e da insegurança provocada pelo tarifaço, os preços do café nas bolsas internacionais dispararam. Entre os dias 7 e 31 de agosto, um curto período de 24 dias, as cotações subiram entre 35% e 44%.

O presidente do Cecafé acredita que o mercado neste momento, com preços recordes do café, trabalha a favor de uma negociação para a redução das alíquotas impostas pelos EUA. “Quanto mais o preço sobe, mais difícil fica para o consumidor (americano) engolir essa alta de preços provocada pela tarifa.”

Como o café é uma commodity, com preços balizados pelo mercado internacional, mesmo que os EUA comprem produto da Colômbia e do Vietnã e não do Brasil, eles terão de desembolsar mais pelo produto porque as cotações estão pressionadas pelo tarifaço imposto ao Brasil e pela queda no rendimento na safra brasileira, uma vez que o país é o maior produtor e exportador.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, diz que os Estados Unidos são e continuam sendo um mercado alvo para o setor, mas que ficou quase inviabilizado por conta da tarifa de 50% imposta pelo governo de Donald Trump.

Segundo ele, o setor está trabalhando de forma recorrente na abertura de novos mercados, seja no âmbito internacional ou local. Neste ano, por exemplo, as indústrias do setor visitaram a África, que é um mercado que não é tão simples, porém é promissor no futuro para a moda brasileira, por causa da grande população.

Pimentel destaca que há uma expectativa muito grande em relação ao avanço da conclusão do acordo Mercosul-União Europeia, e do acordo Mercosul-Nafta. A intenção é ampliar o volume de negócios de itens têxteis e de confecção dentro da América do Sul e com o Canadá para evitar que o produto chinês amplie ainda mais o espaço que já ocupou.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado