MC Poze do Rodo, nome artístico de Marlon Brandon Coelho Couto Silva, foi preso na manhã desta quinta-feira (29) por policiais civis da Delegacia de Repressão a Entorpecentes do Rio de Janeiro. A detenção ocorreu no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste da capital fluminense. Poze é investigado por apologia ao crime e por suposta ligação com o Comando Vermelho, maior facção criminosa do estado.
Poze construiu uma carreira de sucesso no mercado musical. Em 2021, estreou no trap ao assinar com a gravadora Mainstreet Records e estourou com a música "Vida Louca". A faixa, com o verso "O dia tá lindo, clima ensolarado, clima de piscina, cervejinha e churrasco", se tornou um dos maiores hits do ano, acumulando mais de 140 milhões de visualizações no YouTube e alcançando o top 10 das mais ouvidas do país. Alguns dos clipes dos artistas somam mais de 200 milhões de visualizações.
É uma letra de conteúdo quase pueril se comparada aos seus maiores hits, em que expõe com crueza o cotidiano das favelas dominadas pelo tráfico e exaltam a atuação do Comando Vermelho, grupo ao qual o próprio Poze é suspeito de já ter pertencido entre 2015 e 2016, na favela do Rodo.
Confira oito canções do artista que fazem menções diretas à criminalidade, armamento pesado e à estrutura da facção - divulgada pelo portal F5, da Folha de SP:
1. "Fala que é a tropa do Comando Vermelho"
Com versos como "Fala que é a tropa do Comando Vermelho / Ai, nosso fuzil tá demais", a música transforma o poder bélico da facção em símbolo de orgulho. A exaltação é direta e sem subentendidos.
2. "Ordem do Mano"
A faixa trata a violência como resposta automática a qualquer ameaça: "Se tentar contra o nosso bando, tu vai se arrastar". Também reforça a presença diária na "pista" e cita o Comando Vermelho como referência de pertencimento.
3. "Na CDD só tem bandido faixa preta"
Nesta música, a Cidade de Deus é retratada como reduto de criminosos de alto escalão. O termo "faixa preta" sugere status dentro do tráfico, como se fosse uma graduação de respeito e poder.
4. "A Cara do Crime"
"Eu sou criminoso, cria do Rodo" e "sou envolvido" deixam claro o teor confessional da letra, em que Poze se afirma como ex-integrante do tráfico. A música fortalece sua identidade ligada ao crime organizado.
5. "Eu Fiz o Jogo Virar"
A música mistura ostentação e violência com trechos como "a Glock cospe trinta" e "a Lacoste é a marca da quadrilha", reforçando a estética do crime como símbolo de ascensão social e pertencimento à tropa.
6. "Homenagem para Tropa do Rodo"
Em tom solene, a faixa presta tributo a traficantes mortos em confrontos, transformando-os em mártires de guerra. A lealdade à facção é tratada como um valor inegociável.
7. "Se Vim Pegar o Homem, É Bala"
A ameaça é direta: quem tentar contra o cantor será recebido a tiros. A música também cita o Comando Vermelho, mostrando que a violência é o método padrão de defesa e afirmação.
8. "Talvez"
Menos agressiva no tom, "Talvez" menciona a Chacina do Jacarezinho [em maio de 2021, quando 28 pessoas foram mortas] e critica a atuação da polícia. Mesmo assim, a resposta sugerida é a resistência armada, reforçando a lógica de enfrentamento.De acordo com as investigações, o cantor realiza shows apenas em áreas controladas pela facção, com a presença ostensiva de traficantes armados, que garantiriam a segurança dos eventos. O advogado de defesa, Fernando Henrique Cardoso, afirma que "essa é uma narrativa antiga e já debatida" e que vai entrar com pedido de liberdade.