Uma agenda do presidente Lula (PT) e da primeira-dama Janja da Silva na favela do Moinho, no centro de São Paulo, foi articulada com a Associação da Comunidade do Moinho — entidade que, segundo o Ministério Público de SP, tem ligação com o tráfico de drogas comandado pelo PCC.
Documentos apontam que a sede da ONG foi usada para armazenar entorpecentes. A presidente da entidade, Alessandra Moja Cunha, é irmã de Leonardo Monteiro Moja, o “Léo do Moinho”, preso em 2023 como líder do tráfico local. Ela mesma foi condenada por homicídio e já cumpriu pena em regime fechado.
Dois dias antes da visita presidencial, o ministro Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência) esteve na associação para negociar a agenda. Lula e Janja posaram para fotos com representantes da entidade e anunciaram um acordo de realocação das cerca de 900 famílias da comunidade. O terreno, da União, deve virar um parque.
A entidade foi citada em uma operação da Polícia Civil em agosto de 2023, quando drogas foram apreendidas no local. O endereço também consta na agenda oficial de Macêdo.
O governo afirma que a reunião teve como pauta apenas a solução habitacional e defende o diálogo com lideranças comunitárias. A Secretaria-Geral é responsável pela articulação com movimentos sociais, mas Márcio Macêdo tem enfrentado críticas internas e já foi alvo de especulações sobre sua permanência no cargo.
Desde 2023, o governo federal se reuniu ao menos cinco vezes com a Associação. Em maio deste ano, a secretária-executiva da pasta, Kelli Mafort, também esteve na comunidade com outros representantes do governo e de ministérios.
A Secom entrou em contato com a 96FM e enviou duas notas, leia na íntegra:
Nota da Secom
A agenda do Presidente da República na Favela do Moinho, em São Paulo, teve caráter institucional e público, voltado à escuta da comunidade e ao anúncio de políticas públicas em uma das regiões mais vulneráveis da cidade.
A interlocução com representantes comunitários é uma prática essencial de qualquer governo que atue com políticas públicas voltadas à inclusão, à moradia e à promoção da dignidade. Associações locais são formadas e escolhidas pelos próprios moradores e constituem pontos naturais de contato com o poder público.
Neste caso em específico, a interlocução com o presidente se deu por meio de Flavia Maria da Silva, liderança designada pela comunidade como porta-voz, com trajetória reconhecida e idônea.
A agenda do presidente consistiu em um ato na quadra poliesportiva da comunidade, uma visita à escola local, onde foi recebido por um coral de crianças, e a uma visita de cortesia à residência de Flavia da Silva.
A segurança do presidente, da primeira-dama e de toda a comitiva foi conduzida de forma rigorosa pelos órgãos competentes, conforme o protocolo adotado em qualquer agenda presidencial, não tendo sido identificado qualquer risco à integridade das autoridades presentes.
O governo federal reforça que atua com responsabilidade institucional, respeito às normas de segurança e compromisso com a promoção de políticas públicas voltadas à inclusão social e à melhoria das condições de vida da população.
Atenciosamente,
Secom
Nota da Secretaria-Geral da Presidência da República:
A agenda na Favela do Moinho teve como única pauta a apresentação da solução habitacional para as 900 famílias que residem naquela localidade.
O acordo de solução habitacional para a Favela do Moinho foi construído entre o governo federal e o governo do Estado de São Paulo.
O diálogo se deu com moradores da comunidade, primeiro para a construção do acordo que tinha como objetivo a saída pacífica da favela e a destinação adequada das famílias, e depois, na véspera do ato com o presidente Lula, para a preparação da visita em si.
O diálogo com lideranças comunitárias é parte fundamental da atuação de qualquer governo comprometido com políticas de inclusão social, habitação e valorização da cidadania.
A visita à Favela ocorreu de maneira tranquila, sem incidentes, de forma transparente, inclusive com o acompanhamento da imprensa.
O acordo, além da solução habitacional, também incluiu a autorização para a continuidade da cessão do terreno pertencente à União, para o governo do Estado fazer um parque. Para isso, foram estabelecidas condicionantes vinculadas à solução habitacional, evitando situações de conflito e violência.