A investigação do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União começou com base em denúncias feitas pelo jornalista Gustavo Negreiros, ainda no 96 Minutos, em 2019, sobre uma série de irregularidades ocorridas na Fundação Norte-rio-grandense de Pesquisa e Cultura (Funpec) e no Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS), pertencente à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Como boa parte das investigações acontece, a apuração começou de forma bem inesperada. Primeiro, Gustavo Negreiros havia postado no blog dele a situação do evento de posse do novo reitor da UFRN, Daniel Diniz. Naquela época, a Universidade passava por dificuldades diante dos cortes nos repasses federais pela gestão Jair Bolsonaro. Porém, decidiu fazer o evento de posse do novo reitor no Teatro Riachuelo.
Gustavo Negreiros, então, fez um post critico sobre o assunto e um comentário ácido no programa chamado 96 Minutos, numa quinta-feira, 23 de maio de 2019. Dia seguinte, a UFRN se explicou dizendo que as despesas estavam sendo pagas pela FUNPEC. Foi aí que, segundo o jornalista, tomou conhecimento da existência dessa Fundação e vários ouvintes apareceram no chat da rádio para denunciar irregularidades e pedir uma “investigação jornalística” sobre as despesas dessa instituição.
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Na segunda-feira seguinte, dia 27 de maio, Gustavo Negreiros chegou com resultados de uma pesquisa feita nas despesas da Funpec, inclusive, com publicidade. Foi aí o primeiro (mas não o último) sobre o assunto, começando a puxar o novelo de lã que resultou na Operação Faraó.
Como dito, esse não foi o único comentário de Gustavo Negreiros sobre o assunto. No dia 3 de junho, ele voltou o assunto e detalhou ainda mais as despesas “suspeitas”, agora, citando diretamente o Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS). Nesse dia, o jornalista citou diárias “estranhas” e outras despesas publicadas e que mereciam investigação mais detalhada de órgãos de controle.
No dia seguinte, 4 de junho, o diretor do LAIS, Ricardo Valentim, concedeu uma polêmica entrevista ao 96 Minutos, dando a versão dele sobre as polêmicas levantadas. As declarações de Ricardo Valentim, porém, parece que não foram suficientes e o MPF seguiu a apuração, que resultou na Operação Faraó. Assista o programa:
OPERAÇÃO FARAÓ
A Polícia Federal (PF), em conjunto com o Ministério Público Federal (MPF) e a Controladoria-Geral da União (CGU), deflagrou na manhã de hoje (), a Operação Faraó, tendo por objetivo apurar possíveis crimes relacionados ao desvio de recursos públicos federais oriundos do Ministério da Saúde.
Cerca de 90 policiais federais estão cumprindo 20 mandados judiciais de busca e apreensão expedidos pela 2ª Vara Federal/RN, nos municípios de Natal/RN, São Paulo/SP, Balneário Camboriú/SC e Brasília/DF.
Segundo as investigações, no ano de 2017, o Ministério da Saúde transferiu para a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), aproximadamente R$ 165 milhões para ser empregado na prevenção e combate à doença sífilis no Brasil. Aquela instituição de ensino superior, por sua vez, contratou a Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura (FUNPEC), mediante dispensa de licitação, para executar dez metas do que ficou conhecido como projeto “SÍFILIS, NÃO!”.
Ao longo da execução daquele projeto, notadamente na meta relacionada às ações de publicidade e propaganda, envolvendo recursos da ordem de R$ 50 milhões, foram verificados indícios da prática de diversos tipos de delitos, como fraude à licitação, falsidade ideológica, peculato e lavagem de dinheiro, havendo a atuação direta de inúmeras empresas do segmento publicitário, além de possível envolvimento de servidores públicos.