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Emetofobia: como é a vida da jovem que vive com pânico curioso

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Desde criança, Paola Cieglinski, de 20 anos, sentia um medo fora do comum de vomitar. O desconforto começou na infância e se transformou em algo tão intenso que passou a ditar as decisões diárias dela, desde a escolha do que vai comer até os lugares onde pode ir.

“Sempre tive pavor. Quando percebi que podia evitar vomitar com certos hábitos, comecei a mudar minha rotina”, conta.

Atualmente, ela evita comer saladas, frituras e alimentos com leite fora de casa. Prefere ficar com fome a se arriscar com algo que pareça “suspeito”. Quando alguém perto passa mal, sente o corpo reagir com enjoo, ansiedade e vontade imediata de fugir. “O som ou o cheiro já me deixam desesperada. Se eu não sair de perto, acabo passando mal também”, relata.

A emetofobia é o medo intenso e persistente de vomitar, classificado como um transtorno de ansiedade. Segundo o psicólogo Vitor Barros, coordenador do curso de Psicologia da Unieuro, em Brasília, se trata de um medo irracional e persistente que interfere no dia a dia do paciente.

“A diferença entre um medo normal e uma fobia está no prejuízo que ela causa. A pessoa reorganiza a vida inteira para fugir do risco de vomitar”, explica.

As causas da emetofobia são bem variadas. Podem surgir após experiências traumáticas, como presenciar alguém vomitando, ou estar ligadas a traços de personalidade marcados pela necessidade de controle e perfeccionismo. Por ser involuntário, o ato de vomitar representa para essas pessoas a perda total do domínio sobre o próprio corpo.

Com o passar do tempo, Paola passou a evitar eventos sociais e viagens. “Tenho medo de avião e de alguém passar mal durante o voo. Também não bebo por medo de vomitar”, conta. Em casa, criou rituais para se sentir segura, como checar repetidamente o prazo de validade dos alimentos.

Barros explica que a fobia pode alterar completamente a relação do paciente com a comida. “É comum que a pessoa adote dietas extremamente restritivas e rituais de higiene exagerados. A busca pela segurança é tanta que ela abre mão de comer bem, sair ou conviver socialmente”, ensina.

Atrelado a isso, a jovem conta que a preocupação com o corpo também virou um hábito. Ela passou a observar várias vezes ao dia se a barriga está inchada, algo que, em sua percepção, pode indicar o risco de vomitar. O gesto, repetido de forma quase automática, é parte da rotina de Paola.

De acordo com o psiquiatra André Botelho, do Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, o medo de vomitar ativa áreas específicas do cérebro, como a amígdala, ligada ao medo, e a ínsula, associada ao nojo.

“O corpo aprende a temer sensações internas, como o enjoo, e externas, como cheiros e sons. Isso cria um ciclo de ‘medo do medo’, em que a pessoa vive em constante vigilância”, detalha o médico.

Com o tempo, o transtorno pode se confundir com outros quadros, como ansiedade social, transtorno do pânico e hipocondria. A restrição alimentar severa também pode levar à desnutrição, isolamento e até depressão.

Principais sintomas da emetofobia

  • Medo intenso ou pânico ao imaginar vomitar.
  • Ansiedade e náusea diante de gatilhos reais ou imaginários.
  • Evitar alimentos, lugares ou situações sociais.
  • Observação obsessiva do próprio corpo.
  • Crises de taquicardia, sudorese e sensação de perda de controle.

Tratamento da emetofobia

Paola ainda não iniciou um tratamento formal, mas reconhece a necessidade de buscar ajuda. “Antes eu achava que era normal, mas percebi que isso atrapalha a minha vida. Hoje, sei que não é apenas um medo, é algo que preciso cuidar”, relata.

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma das abordagens mais eficazes no tratamento da emetofobia, com exposição gradual aos estímulos que causam o medo. Além disso, antidepressivos que regulam a ansiedade podem ser utilizados e, em alguns casos, antieméticos servem como apoio adicional.

O acompanhamento familiar também é essencial. É importante oferecer compreensão, sem transmitir que a situação é realmente perigosa. Em vez de evitar o que causa medo, algumas estratégias podem incentivar passos pequenos, como experimentar um alimento novo ou frequentar um local que antes era evitado.

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