Uma descoberta arqueológica em Israel está desafiando uma antiga tradição cristã. A caverna conhecida como “túmulo de Salomé”, reverenciada desde o período bizantino como o local de sepultamento da parteira que teria auxiliado no nascimento de Jesus, pode, na verdade, ter origem herodiana.
Publicado pela Autoridade Israelense de Antiguidades (IAA), um novo estudo sugere que o local, situado 48 km a sudoeste de Jerusalém, pode ser o túmulo de uma figura da elite judaica, possivelmente da própria Salomé, irmã do rei Herodes, o Grande — e não da parteira cristã.
Apesar da presença de um ossuário com o nome “Salomé” e do histórico de peregrinação cristã a partir do século V, os pesquisadores apontam elementos arquitetônicos sofisticados e sua localização próxima a vilas nobres como indícios de que se trata de uma tumba de alto status, datada do fim do século I a.C.
“Salomé era um nome comum na época. Nada comprova que fosse a parteira mencionada na tradição cristã”, afirmou Vladik Lifshits, coautor do estudo.
O sítio abrigava também centenas de lâmpadas de óleo dos séculos VIII e IX, provavelmente vendidas a peregrinos para iluminar a caverna. A descoberta reforça o quanto religião, política e comércio moldaram o uso e a memória de espaços históricos.
Para o arqueólogo Boaz Zissu, da Universidade Bar-Ilan, embora a identificação como túmulo herodiano seja convincente, ainda faltam provas definitivas para associá-lo à irmã de Herodes.
A hipótese reacende o debate entre tradição religiosa e evidência arqueológica no entendimento de sítios sagrados.