Pesquisadores internacionais desenvolveram um método que usa inteligência artificial e estatística para identificar quais grupos autorais escreveram diferentes partes da Bíblia Hebraica (Antigo Testamento). O estudo, publicado na revista Plos One, analisou os nove primeiros livros do texto sagrado e revelou distinções linguísticas entre os principais grupos de redatores.
Segundo Thomas Römer, biblista do Collège de France, a Bíblia não tem autores únicos, mas foi escrita e reescrita por gerações de redatores. A IA foi treinada para identificar padrões de palavras simples — como “não”, “rei” ou “que” —, permitindo atribuir estilos específicos a três tradições já reconhecidas: o Deuteronômio, a História Deuteronomista (de Josué a Reis) e os Escritos Sacerdotais (Gênesis a Levítico).
A ferramenta acertou a atribuição em 84% dos casos, validando boa parte do consenso acadêmico, mas também apontou novas interpretações. Trechos sobre Abraão e o Livro de Ester, por exemplo, parecem não pertencer a nenhuma das três escolas principais, reforçando a tese de que foram escritos por autores externos.
Além da Bíblia, os cientistas esperam aplicar o método em outros textos antigos, como os Manuscritos do Mar Morto ou documentos históricos suspeitos de falsificação.