O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar Israel em uma reunião sobre a criação do Estado palestino na Organização da Nações Unidas (ONU) nesta segunda-feira, 22. Lula endereçou críticas aos Estados Unidos, que devem bloquear o reconhecimento da Palestina, usando o que chamou de “tirania do veto”. A informação é do Estadão.
No mesmo encontro em que a França reconheceu a independência do Estado palestino, o petista afirmou que a guerra contra o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza não é somente “o extermínio do povo palestino”, mas uma tentativa de aniquilar seu “sonho de nação”. Ele também disse que a melhor palavra para descrever o caso é “genocídio”.
“O conflito entre Israel e Palestina é simbolo maior dos obstáculos enfrentados pelo multilateralismo. Ele mostra que a tirania do veto sabota a própria razão de ser da ONU, de evitar que atrocidades como as que motivaram sua fundação se repitam”, disse Lula.
A declaração é mais uma crítica ao governo Binyamin Netanyahu, que nos últimos dias afirmou que não haverá um Estado Palestino, diante do crescente apoio expressado à questão nas Nações Unidas.
Desde o ano passado, as críticas de Lula têm provocado insatisfação na comunidade judaica brasileira e entre países ocidentais aliados a Israel. Brasília e Tel-Aviv não têm atualmente embaixadores servindo nos respectivos postos.
“O que está acontecendo em Gaza não é só o extermínio do povo palestino, mas uma tentativa de aniquilamento de seu sonho de nação. Tanto Israel quanto Palestina tem o direito de existir”, afirmou o petista. “Não há palavra mais apropriada para descrever o que está ocorrendo em Gaza do que genocídio”, completou, citando uma comissão de inquérito sobre os territórios palestinos ocupados, que operou perante a ONU.
O presidente relembrou que o Brasil condenou o massacre de 7 de outubro de 2023, perpetrado pelo Hamas. O País não adota a designação do grupo como terrorista, mas Lula voltou a dizer que os “atos terroristas” cometidos são “inaceitáveis”.
Esse foi o primeiro discurso de Lula nas Nações Unidas, um dia antes de abrir o Debate Geral. O petista faz sua 10ª participação na Assembleia Geral da ONU.
Antes de se pronunciar, o governo brasileiro cumpriu uma promessa e formalizou o endosso do País à ação jurídica movida pela África do Sul, com acusação de “genocídio”, contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ).
A decisão havia sido anunciada em julho, mas a documentação jurídica somente foi entregue no dia 17, quarta-feira passada, em Haia. A diplomacia brasileira afirmou que existe um padrão sistemático de destruição física e cultura dos palestinos e que a única inferência razoável é a intenção genocida.
Ele disse que o Brasil vai manter suspensa exportações de material de defesa para Israel e reforçar o controle de produtos importados assentamentos ilegais na Cisjordânia.
Lula defendeu também a criação de um órgão especial inspirado no comitê contra o apartheid, da África do Sul.
Lula estava acompanhado da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, do chanceler Mauro Vieira, do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, do assessor especial Audo Faleiro e do representante permanente do Brasil na ONU, embaixador Sérgio Danese.
O presidente criticou ainda a expansão de assentamentos anunciada por Tel Aviv, a “limpeza étnica a que assistimos em tempo real” e defendeu empoderar a Autoridade Palestina. Lula falou no “uso da fome como arma de guerra” e ponderou que o direito de defesa israelense não autoriza a “matança indiscriminada” de civis.
Mudança de cenário
O encontro foi proposto e liderado pela França e pela Arábia Saudita. Os representantes permanentes da Palestina estavam presentes no plenário, mas nenhum de Israel. Os lugares ficaram vazios. Os países promovem a Declaração de Nova York em favor da demanda palestina.
Impedido de ir a Nova York por um banimento do governo Donald Trump, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, discursou por meio de videoconferência.
“Não podemos demostrar fraqueza diante do terrorismo. Mas o direito deve sempre prevalecer sobre o poder”, disse o presidente francês, Emmanuel Macron. “Nada justifica a guerra em Gaza.”
Conforme Macron 11 países reconheceram perante a ONU a existência do Estado Palestino: França, Reino Unido, Canadá, Austrália, Andorra, Bélgica, Luxemburgo, Portugal, San Marino, Mônaco e Malta.
Antes, a Palestina era reconhecida por 147 dos 193 países membros da ONU. Por enquanto, ela segue como Estado observador, assim como a Santa Sé.
Para diplomatas, os anúncios dos europeus e do Canadá, aliados israelenses no Ocidente, aumenta o peso político e a pressão pelo reconhecimento internacional da Palestina. Mas não o concretiza.
O reconhecimento formal da Palestina precisa ser votado no Conselho de Segurança das Nações Unidas e aprovado por ao menos 9 votos, mas basta um veto dos membros permanentes para barrá-la.
Dos cinco países com assento fixo (China, Rússia, EUA, França e Reino Unido, somente os americanos devem se opor. Para Lula, o veto afeta a “vocação universal” da ONU.
O governo Donald Trump, principal aliado de Israel, chamou o reconhecimento do Estado palestino com algo “teatral” e, segundo diplomatas manobrou nos bastidores para reduzir o impulso político.
O Brasil reconhece o Estado da Palestina desde 2010. O governo Lula saudou a decisão de novos reconhecimentos e citou a “convicção histórica” de que este é o único caminho para a paz e a estabilidade no Oriente Médio.