Mensagens apreendidas pela Polícia Federal revelam novos indícios da atuação do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, dentro do Ministério da Saúde. Em conversas obtidas pelos investigadores, o lobista cita orientações supostamente repassadas a integrantes da pasta durante negociações envolvendo medicamentos à base de canabidiol.
Em 6 de novembro de 2024, o Careca do INSS encaminhou uma mensagem a um interlocutor afirmando que “Berger já está com aquela orientação em mãos”. O apelido se refere a Swedenberger Barbosa, então secretário-executivo do Ministério da Saúde e atualmente chefe do Gabinete Adjunto de Gestão Interna do gabinete pessoal do presidente Lula.
Segundo a PF, o lobista tentou viabilizar, por meio da empresa World Cannabis, um acordo sem licitação para fornecimento de medicamentos à base de canabidiol ao SUS. Nesse processo, contou com a atuação formal da empresária Roberta Luchsinger, amiga de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha.
Dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação mostram que o Careca do INSS esteve ao menos cinco vezes na Secretaria-Executiva do Ministério da Saúde nos últimos dois anos, durante a gestão de Swedenberger Barbosa. Registros oficiais indicam ainda que ele e Roberta Luchsinger participaram juntos de reuniões na pasta para tratar do tema cannabis medicinal.
Em nota, Swedenberger Barbosa afirmou que os encontros foram institucionais, registrados em agenda pública e sem qualquer orientação ou influência política. Segundo ele, não houve interesse do ministério em adquirir produtos da World Cannabis, nem qualquer desdobramento das reuniões.
Outra mensagem em posse da PF mostra o lobista antecipando mudanças no comando do Ministério da Saúde. Antes mesmo da confirmação oficial, ele afirmou que Alexandre Padilha assumiria a pasta e disse que “os projetos ficaram melhores” com a troca. Também chegou a afirmar que Swedenberger Barbosa seria indicado para a presidência da Anvisa, o que não se confirmou.
A Polícia Federal também apura mensagens trocadas entre o Careca do INSS e Roberta Luchsinger, nas quais ela orienta o lobista a se desvincular de empresas investigadas e a descartar telefones celulares. Segundo a PF, Roberta recebeu cerca de R$ 1,5 milhão do lobista. Em uma das transferências, ele teria indicado que o dinheiro seria destinado “ao filho do rapaz”, em referência que levanta suspeitas e segue sob investigação.
Preso em setembro de 2025, Antonio Carlos Camilo Antunes admitiu, em depoimento à CPMI do INSS, que teve negócios com Roberta Luchsinger, mas afirmou que a consultoria não avançou. O Ministério da Saúde reforçou que o canabidiol não está incorporado ao SUS e que não há qualquer processo em andamento para aquisição ou oferta do produto.