Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e dos Estados Unidos, Donald Trump, declararam que pretendem se encontrar neste domingo (26) na capital da Malásia.
A agenda ainda não foi confirmada oficialmente, mas é tratada como realidade nos bastidores do governo, após as sinalizações. Ela deve ocorrer por volta das 18h, no horário local, às 7h, em Brasília.
Lula e Trump participam, em Kuala Lampur, da 47ª Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).
A Malásia é tratada por fontes do governo brasileiro como um “terreno neutro”, onde será possível iniciar de fato as negociações sobre o tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil. São esperadas concessões no setor de carnes, enquanto o norte-americano deve priorizar a desregulação das big techs e a entrada no mercado brasileiro de etanol.
Estes temas também devem ser abordados por Lula: a incursão dos Estados Unidos sobre a Venezuela; a aplicação da Lei Magnitsky contra ministros do governo e do Supremo Tribunal Federal (STF); e a participação dos EUA na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025.
Não está claro, segundo auxiliares, se o petista tentará convencer Trump sobre a legitimidade da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), citada pela Casa Branca como um dos motivos para o tarifaço.
Quem deu a primeira sinalização sobre a agenda foi Trump. Ao embarcar para a Malásia neste sábado (25), o republicano foi perguntado sobre a chance de encontro com Lula. Em áudio divulgado pela Casa Branca, confirmou a vontade de diálogo, e sinalizou disposição em revisar as tarifas.
“Eu acredito que vamos nos encontrar de novo, nos encontramos na [Assembleia Geral das] Nações Unidas, brevemente”, afirmou Trump a jornalistas. Questionado se poderia diminuir a tarifa geral de 50% imposta a produtos brasileiros, o presidente dos EUA indicou que “sim”, mas sob “as circunstâncias corretas”.
Lula reagiu à declaração de Trump. “Eu espero que aconteça. Eu vim aqui com a disposição de que a gente possa encontrar uma solução. Mas tudo depende da conversa. Eu trabalho com otimismo de que a gente possa encontrar uma solução”, destacou o petista.
O presidente brasileiro ainda demonstrou confiança no fim do imbróglio: “Não tem exigência dele, e não tem exigência minha ainda. Eu vou colocar na mesa os problemas, e vou tentar encontrar uma solução. Então, pode ficar certo de que vai ter uma solução”.
Neste sábado (25), Lula deu uma série de recados a Trump, inclusive criticando indiretamente atitudes do republicano. O brasileiro discursou durante visita de Estado ao primeiro-ministro da Malásia, Anwar bin Ibrahim.
Ao discursar, Lula disse: “Para um governante, andar de cabeça erguida é mais importante que um Prêmio Nobel. Para um governante, cuidar das pessoas mais humildes é quase que uma obrigação bíblica. É um mandamento de Deus. Porque é para isso que a gente vem para governar”.
A mensagem foi entendida como um recado a Trump, que queria ter levado a honraria deste ano.
O petista ainda reclamou da duração da guerra da Ucrânia e do “massacre” na Palestina. “Isso acontece porque as instituições multilaterais, criadas para tentar evitar que essas coisas acontecessem, pararam de existir. Hoje, o Conselho de Segurança da ONU e a ONU não funcionam mais. Todas as guerras acontecidas nos últimos tempos foram determinadas por gente que faz parte do Conselho de Segurança da ONU. E que não consultou, e que não aprovou em nenhum fórum”.
Lula também deu um recado sobre a postura dos EUA, que impôs o tarifaço ao Brasil, mas também uma série de sobretaxas à Europa e à Ásia.
“Eu vim dizer ao primeiro-ministro Anwar Ibrahim que temos possibilidade de mudar o mundo. De fazer com que as coisas sejam melhores, de fazer com que o humanismo não seja derrotado pelos algoritmos. De dizer ao mundo que o mundo precisa de paz, e não de guerra. De dizer ao mundo que nós precisamos de livre comércio, e não de protecionismo”, comentou o presidente brasileiro.