Em 2023, o Brasil registrou 34,8 mil mortes no trânsito, um leve aumento em relação ao ano anterior e que reforça uma tendência de alta desde 2019. Os dados estão no Atlas da Violência, que pela primeira vez traz informações sobre violência dos transportes. Os piores resultados, proporcionalmente, foram no Tocantins, Mato Grosso e Piauí, e o principal indutor para esse cenário foram os acidentes com motocicletas. As mortes nesse tipo de acidente cresceram mais de 10 vezes nos últimos 30 anos. A matéria é de Lucas Altino, do O Globo.
Os dados inéditos estão na publicação Atlas da Violência 2025, divulgada na manhã desta segunda-feira (12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Os números são um compilado das estatísticas do Sistema de Informações sobre Mortalidade (Sim), do Ministério da Saúde.
Mortes no trânsito
2018: 32.655
2022: 33.894
2023: 34.881
Aumento de 2.9% em reação ao ano anterior, e de 6.8% em relação a 2023
Maiores taxas por 100 mil habitantes
Tocantins: 33,9 (552 mortes)
Mato Grosso: 33,6 (1.207 mortes)
Piauí: 30,3 (1001 mortes)
Rondônia: 26 (479 mortes)
Roraima: 25,1 (153 mortes)
Em 2023, houve 45.747 assassinatos no Brasil. Assim, o número de mortes no trânsito não fica muito atrás. Segundo a análise do Atlas da Violência, os números representam um "problema de saúde pública de primeira importância":
"O sistema de transporte no Brasil apresenta uma elevada taxa de mortalidade, que se aproxima do número de mortes violentas intencionais", diz o relatório.
Pesquisador do Ipea e autor do capítulo sobre violência no trânsito, Erivelton Pires Guedes destacou a proximidade entre os números de vítimas de homicídio e de mortos no trânsito. A estatística de assassinatos por arma de fogo, por exemplo, é praticamente a mesma que a de mortes por acidentes.
— A violência no transporte é quase tão grande quanto a dos homicídios. É um problema muito grave que o Brasil tem que enfrentar — afirmou Guedes, que reforçou a contribuição das motos na estatística, fator presente em 40% dos óbitos no trânsito no país. — As motos estão matando jovens negros, principalmente pelo serviço de entrega ou de táxi. A redução da velocidade é uma atitude simples para todos os prefeitos. Tem impacto negativo na cabeça de muita gente, mas na pratica é uma salva-vidas.
Em 2010, a ONU declarou o período até 2020 como a “década de ação pela segurança no trânsito", com o objetivo de reduzir as mortes em 50% no mundo inteiro. Naquele momento, o Brasil era o quinto país com mais mortes no trânsito, em um patamar de cerca de 40 mil óbitos e 300 mil feridos anualmente.
Após uma série de ações, houve uma redução de 5% nas mortes no planeta em acidentes de trânsito durante a década, mas o Brasil, ao contrário, teve um aumento de 2,3%. Entre 2010 e 2019 foram 392 mil mortes, um aumento, em números absolutos, de 13,5% em relação à década anterior. A taxa de mortalidade por 100 mil habitantes apresentou um aumento de 2,3%, "indicando que a campanha da ONU, na primeira década, não surtiu o efeito desejado no país", como apontou o Atlas da Violência.
Moto é o principal fator
O Ipea destacou como um dos principais fatores a alta de mortalidade entre acidentes de motocicleta, número que cresceu mais de 10 vezes nos últimos 30 anos no Brasil. O pico foi em 2014, quando houve cerca de 13 mil óbitos nesse tipo de acidente.
No período de 2014 a 2019, até aconteceu uma pequena queda da mortalidade. Como hipóteses, o Atlas Da Violência citou a crise econômica, pela redução de demanda de transportes. Mas, desde a virada da década voltou a tendência de crescimento das mortes, com uma interrupção nos anos de pandemia (2020 e 2021), e voltando a tendência na sequência, com agravante do aumento da frota e uso de motos.
"O usuário da motocicleta é, atualmente, a maior vítima dos sinistros de trânsito no Brasil. Isto se deve, entre outros fatores, ao aumento da frota de veículos, especialmente de motocicletas, sem o acompanhamento proporcional de investimentos em infraestrutura e gestão do trânsito", diz o relatório.
Tocantins tem o maior número de vítimas
Entre os estados, os piores resultados, proporcionalmente, foram no Tocantins, Mato Grosso, Piauí, Rondônia e Roraima. De 2018 a 2023, 17 estados tiveram aumento nas suas taxas, enquanto 10 conseguiram reduzir. As maiores diminuições, nesse período, aconteceram no Rio Grande do Norte(-23,5%), Distrito Federal (-16,1%) e Ceará (-15,8%). Já os maiores aumentos foram em Rondônia (+40,2%), na Bahia (+27,3%) e no Amapá (+24,4%).
No Piauí, 69,4% dos óbitos no trânsito aconteceram em acidentes com motos, a maior proporção do Brasil. Em sete Unidades Federativas, essa proporção é superior a 50%, seis no Nordeste e uma no Norte.
O estudo não contempla os números de 2024 e 2025, mas, como mostrou O GLOBO, os casos seguem em alta. Este ano, São Paulo registrou o maior número de mortes de motociclistas para o mês de fevereiro desde 2015. Já no Rio, três a cada quatro dos acidentes atendidos pelo Corpo de Bombeiros em 2024 tinham motos