A suspensão imediata da greve dos servidores da saúde de Natal, determinada pela Justiça do Rio Grande do Norte na noite da última terça-feira 17, gerou reação por parte do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do RN (Sindsaúde). Os servidores realizaram uma assembleia de urgência nesta sexta-feira 20, no Sindicato dos Bancários, com o objetivo de discutir medida e ouvir propostas para decidir os próximos passos da manifestação. As informações é do Agora RN.
A decisão, assinada pelo desembargador Cornélio Alves, atendeu a um pedido da Prefeitura do Natal e impôs multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento, limitada a R$ 200 mil por entidade.
O diretor do Sindsaúde, Henrique Pereira, afirmou que a decisão foi recebida com surpresa e classificou a medida como prejudicial à categoria. Segundo ele, os trabalhadores enfrentam há mais de uma década as mesmas condições de trabalho e não foram ouvidos antes da suspensão judicial da greve.
“Recebemos com bastante surpresa. Há 11 anos enfrentamos as mesmas dificuldades. Já tivemos outras duas greves suspensas de forma semelhante, sem que houvesse escuta da nossa parte. Perdemos gratificações, adicional noturno, não temos progressões. Hoje, muitos profissionais estão com salários defasados”, declarou.
Henrique também afirmou que a justificativa usada pela Prefeitura sobre o impacto da greve em um cenário de epidemia de arboviroses é recorrente e não foi acompanhada de ações estruturais. “Todos os anos há aumento de casos e o serviço público já deveria estar preparado. No entanto, essa situação é usada para calar os trabalhadores. Temos sobrecarga, profissionais trabalhando sozinhos por turnos de 12 horas, sem pausa para refeição. Isso compromete a assistência”, afirmou.
A diretora do Sindsaúde, Rosália Fernandes, também criticou a decisão judicial de suspender a greve e afirmou que a reinvidicação não se limita à questão salarial, mas também à luta por melhores condições de trabalho. “Não se tem condições de trabalho nas UPAs, nos hospitais, nas unidades básicas. Então, é uma greve por salários, mas também por melhores condições de trabalho, que a gente tenha condições de ter um atendimento digno para a população”, comentou.
Ela ainda afirmou que a decisão evidencia o descaso tanto do Judiciário quanto da gestão municipal com os trabalhadores. “Estamos indignados com essa decisão da justiça, dizem que não tem recursos enquanto gastam milhões para se pagar artistas para as festas. Os trabalhadores merecem as festas, mas nós também merecemos os nossos direitos”, afirmou.
O advogado do Sindsaúde, Andrey Leirias, informou que o sindicato irá recorrer da decisão e criticou os fundamentos apresentados na liminar.
“Discordamos vigorosamente da decisão monocrática tomada na madrugada pelo desembargador Cornélio Alves. Ela foi baseada em elementos frágeis, como a alegação de que não houve esgotamento das negociações. Essa categoria negocia desde janeiro de 2023. E, apenas na atual gestão, estamos tentando diálogo desde janeiro de 2025”, disse o advogado.
Leirias também rebateu o argumento de que a greve compromete a prestação dos serviços em razão de um cenário epidemiológico. “Não foram apresentados dados oficiais ou documentos do Ministério da Saúde que comprovem esse cenário. A decisão não se sustenta tecnicamente”, concluiu.
A greve dos servidores teve início na última terça-feira 17, após a rejeição, em assembleia, da proposta da Prefeitura de reajuste de 5,47% e reabertura da mesa de negociação em até 60 dias. Os trabalhadores reivindicam reajuste de 24%, pagamento retroativo do piso da enfermagem, implantação de quinquênios, mudança de enquadramento e combate ao assédio moral.
A decisão judicial continua válida até que seja modificada por instância superior.