O tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, réu na ação penal da suposta trama golpista contra o resultado das eleições de 2022, confirmou ter participado de um encontro no apartamento do general Braga Netto com o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, mas disse que não ocorreu nada de ilegal e que o “clima era de velório”.
Braga Netto, também réu na ação, foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro, derrotada pela chapa de Lula e Geraldo Alckmin. A notícia é dos repórteres Manoela Alcântara e Pablo Giovanni, do Metrópoles.
Lima é interrogado no Supremo Tribunal Federal (STF) na tarde desta segunda-feira (28) e afirmou que, de fato, o encontro ocorreu no apartamento do general, mas que não foi tratada nenhuma questão de golpe, tampouco o repasse de dinheiro de Braga Netto dentro de uma sacola de vinho para financiar a Operação Punhal Verde e Amarelo – conforme apontado pela acusação.
“A investigação falou em diversos documentos que foram encontrados com outros [que estavam no encontro], sobre o que poderia ter sido tratado nessa reunião. Nada de ilegal ou diferente foi tratado. Era clima de velório. Era o general [Braga Netto], chateado do jeito dele, sem esmorecer, falando de coisas do dia a dia, do cenário do que estava acontecendo, mas com um ar que tinha ‘seguido em frente’. Não vi nada diferente disso”, disse Lima.
O militar pontuou que, além dele e de Cid, estava o major Rafael Martins de Oliveira no encontro no apartamento do general e que ficou no local, no máximo, 30 minutos.
“Nenhuma autoridade [foi monitorada]. Nem na inteligência prestei esse tipo de trabalho. Nunca fiz isso que o senhor está perguntando”, disse o tenente-coronel, respondendo ao juiz Rafael Henrique Tamai, do gabinete do ministro Alexandre de Moraes – que conduz a audiência.
Logo em seguida à manifestação da defesa, o tenente-coronel afirmou que não é verdade que Mauro Cid saiu mais cedo do encontro, em 12 de dezembro. “A memória dele lembra do que interessa para o objetivo dele. Não vou acusar ele de nada. Só ele sabe o que ele passou. Mas ele escolhe quando tem boa memória e quando não tem boa memória”, concluiu Lima.
Carta
A acusação aponta que, em 28 de novembro de 2022, após a vitória de Lula na eleição presidencial, os réus se reuniram para discutir a elaboração de uma carta de teor golpista a ser enviada aos comandantes das Forças Armadas.
Além disso, afirma a PGR, o grupo planejava ações para provocar um fato de forte impacto e mobilização social, o que permitiria a Bolsonaro e seus aliados avançarem no plano golpista. Veja quem são os réus do núcleo 3:
- Bernardo Romão Correa Netto – coronel do Exército;
- Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira – general da reserva do Exército;
- Fabrício Moreira de Bastos – coronel do Exército;
- Hélio Ferreira Lima – tenente-coronel do Exército;
- Márcio Nunes de Resende Júnior – coronel do Exército;
- Rafael Martins de Oliveira – tenente-coronel do Exército;
- Rodrigo Bezerra de Azevedo – tenente-coronel do Exército;
- Ronald Ferreira de Araújo Júnior – tenente-coronel do Exército;
- Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros – tenente-coronel; e
- Wladimir Matos Soares – policial federal.
Interrogatório
Diferentemente dos réus do núcleo 1, os do núcleo 3 prestarão interrogatório de forma virtual. O primeiro a ser ouvido será Bernardo Romão Correa Netto. Em seguida, os demais serão interrogados conforme a ordem alfabética.
Todos os acusados deverão estar presentes na sessão virtual para responder às perguntas. Os advogados poderão acompanhar os interrogatórios ao lado de seus clientes.