A empresa de um sócio do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira (foto), recebeu R$ 12 milhões de contratos de publicidade das estatais Caixa Econômica Federal e Embratur nos últimos dois anos, segundo o Estadão.
Os pagamentos foram realizados à produtora Macaco Gordo, do empresário Francisco Kertész, que é sócio de Sidônio na M4 Comunicação e Propaganda, atualmente chamada de Nordx.
A M4 foi criada em 2022 para atuar na campanha eleitoral de Lula e presta serviços ao diretório nacional do Partido dos Trabalhadores (PT).
Segundo Kertész, a produtora foi escolhida em processos de concorrência por “adequação técnica” e por oferecer o menor preço.
Sidônio consta no quadro societário da M4, mas, por ser ministro do governo Lula, não ocupa mais o cargo de sócio-administrador, função que tinha quando a agência foi fundada.
Relação antiga
Sidônio e Kertész mantêm uma relação de longa data.
Segundo o Estadão, a produtora Macaco Gordo já prestava serviços para a agência de Sidônio, Leiaute, na execução de contratos de publicidade do governo do PT na Bahia, mas não atuava no governo federal.
Em 2025, com Sidônio no cargo de ministro, o dono da Macaco Gordo fez 13 visitas ao Palácio do Planalto entre janeiro e junho, todas para se encontrar com Sidônio.
Segundo ele, os encontros foram “de cunho pessoal, sem que jamais tenha sido tratado das atividades da Macaco Gordo”.
Caixa
A produtora de Kertész recebeu R$ 4,3 milhões para produzir peças publicitárias da Caixa neste ano.
A estatal afirma que as contratações seguiram as normas legais.
“A Caixa esclarece que as contratações de serviços de produção publicitária realizadas pelas agências Propeg, Calia e Binder, no âmbito dos contratos vigentes com o banco, seguem os critérios estabelecidos pela legislação e pelas normas internas da instituição. A escolha da produtora Macaco Gordo para a produção de filmes publicitários ocorreu por meio de processo de cotação conduzido pelas agências de publicidade licitadas, conforme previsto contratualmente. A produtora foi selecionada por apresentar a proposta de menor preço entre, no mínimo, três orçamentos coletados no mercado. Desde janeiro de 2023, a Caixa trabalhou com 41 produtoras de vídeo. A Caixa aprovou os orçamentos apresentados pelas agências e autorizou a produção das campanhas por representarem a proposta de menor custo, em conformidade com os ritos legais e contratuais vigentes”, diz a nota.
Pagamentos
Os pagamentos das estatais ao sócio de Sidônio ocorrem de forma indireta.
A Caixa e a Embratur mantêm contratos com agências responsáveis por criar campanhas publicitárias sob demanda, contratadas via licitação.
Os recursos são repassados pelas agências às produtoras, que não aparecem nos portais do governo federal como empresas contratadas.
Não há exigência de licitação para contratar essas produtoras, mas as agências devem coletar no mínimo três propostas de preços no mercado para justificar a escolha da mais barata.
Esse procedimento não precisa seguir integralmente a Lei de Licitações, embora a aprovação final das campanhas seja feita pelo órgão público.
Mesmo assim, nem sempre a regra dos orçamentos é cumprida.
De acordo com o Estadão, o maior pagamento recebido pela Macaco Gordo, R$ 2,3 milhões por uma campanha sobre renegociação de dívidas atrasadas da Caixa em 2025, teve um aditamento dispensando a pesquisa de preços.
A agência Calia, responsável pela campanha, inicialmente fez uma cotação para produzir filmes de 30 segundos, e a Macaco Gordo venceu com proposta de R$ 1,6 milhão.
Em seguida, a agência solicitou a produção de outros filmes, acrescentando R$ 687 mil ao contrato, justificando que se tratava apenas de um complemento.
A campanha incluiu a contratação do ator Paulo Vieira, cujo cachê foi pago à parte pela Caixa.
Embratur
Para a Embratur, a produtora realizou uma campanha sobre afroturismo em 2024.
As imagens foram filmadas em pontos turísticos de Salvador. A Macaco Gordo recebeu R$ 1,9 milhão pelo trabalho.
A produtora também executou uma segunda campanha da Embratur em 2024 pela mesma agência, com o tema “projeto realidade virtual Sebrae”, por mais R$ 1,9 milhão.
O que diz Sidônio
Em nota, Sidônio garantiu que “jamais” indicou a contratação da Macaco Gordo para campanhas publicitárias.
“A escolha de qualquer fornecedor terceirizado, pelas agências licitadas, ocorre sem intervenção da Secom. O regramento em vigor obriga que as agências obtenham cotações de pelo menos três empresas capazes de prestar aquele serviço, de modo que a ofertante do menor preço o execute. No processo de aprovação das campanhas, compete à secretaria aprovar a linha conceitual e a alocação dos recursos nos diferentes veículos, à luz dos normativos de mídia técnica consolidados na legislação e nos acórdãos do Tribunal de Contas da União”, diz.
“Antes de assumir o cargo que hoje ocupa, o ministro Sidônio Palmeira afastou-se das funções de gestão e de administração das empresas em que já atuou, em absoluto respeito à legislação vigente e aos princípios éticos da alta administração federal. Desse modo, é descabido, infundado e mentiroso insinuar que tenha havido qualquer ingerência do ministro em favor de empresas ou indivíduos durante qualquer decisão de que ele tenha participado no âmbito do governo federal”, afirma a Secom.
A informação é do O Antagonista.