Quebras de sigilo bancário mostram que entidades envolvidas no esquema bilionário de fraude contra aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) fizeram pagamentos milionários a empresas que operam créditos consignados sob suspeita. As transações fizeram a Polícia Federal (PF) investigar a relação entre a farra dos descontos indevidos e os empréstimos feitos com segurados. A notícia é do repórter Luiz Vassallo, do Metrópoles.
A prática seria uma forma de as entidades conseguirem filiar ainda mais aposentados para cobrar mensalidades associativas por meio de convênio com o INSS. Estima-se que mais de 6 milhões de segurados tenham sido filiados a associações e sindicatos, que arrecadaram R$ 6,3 bilhões com descontos desde 2019.
Farra dos descontos e crédito consignado
- A suspeita é a de que essas empresas têm sido contratadas para vender os empréstimos consignados a aposentados e embutido indevidamente os descontos de mensalidade associativa à revelia dos segurados do INSS. Contratos mostram que as empresas lucram sobre cada novo aposentado filiado.
- Os pagamentos investigados foram feitos pelo trio de entidades Ambec, Unsbras (hoje, Unabrasil) e Cebap, que têm como diretores parentes e até funcionários de empresas ligadas ao empresário Maurício Camisotti, investigado como beneficiário final dos descontos dessas associações.
- No total, foram levantados pagamentos de R$ 15 milhões a duas empresas de venda de créditos consignados. Uma delas, a HKM, pertence ao empresário Herbert Kirstersson Menocchi, que foi gerente do BMG.
- Um contrato entre o empresário e a Cebap mostra que a empresa atua para que os vendedores de consignado ofereçam juntamente com os empréstimos a filiação às entidades que aplicam os descontos de mensalidade.
- O acordo prevê que as empresas fiquem com a primeira mensalidade obtida de novos filiados, além de 30% das seguintes.
- Outra empresa é o Balcão das Oportunidades, que também se diz um correspondente de créditos consignados do BMG. Essa empresa recebeu R$ 5 milhões somente da Ambec, e tem contratos milionários com a Cebap.
Outras associações têm relações com empresários do setor. É o caso da Amar Brasil (ABCB) e da Master Prev. Todas elas têm em seus quadros de diretores familiares do empresário Américo Monte Filho, dono de empresas de crédito consignado.
A PF também mapeou repasses financeiros e movimentações financeiras de mais de R$ 320 milhões da Amar Brasil. Em parte, para empresas correspondentes de crédito consignado.