A venda ilegal de Mounjaro, o medicamento que se tornou símbolo do emagrecimento rápido, rompeu as fronteiras do comércio clandestino. Investigação exclusiva da coluna revela que farmácias conhecidas do Distrito Federal estão comercializando o remédio sem exigir receita médica e, em casos ainda mais graves, oferecem a aplicação da injeção no balcão, feita por funcionários sem qualquer formação técnica.
A noticia é do portal METROPOLES. Os flagrantes, obtidos com câmera escondida em drogarias do Plano Piloto, de Vicente Pires e de Taguatinga, mostram uma rede de irregularidades que desafia a legislação sanitária e expõe consumidores a riscos graves.
O que deveria ser um ambiente de segurança e controle transformou-se em um mercado paralelo de medicamentos controlados, alimentado pela alta procura e pela promessa de resultados rápidos.
O processo da compra ilegal é simples. Ao ter o Mounjaro solicitado, o atendente confirma a disponibilidade e, ao ser questionado sobre a exigência de receita, responde sem hesitar: “Então, assim… necessário é. Mas a gente consegue abrir uma exceção”.
As canetas, que custam cerca de R$ 1.800, podem ser encomendadas e entregues diretamente na casa do comprador. Para dar aparência de legalidade à transação, os vendedores afirmam ter “um fornecedor que providencia a receita”, mas o documento nunca é apresentado ao cliente. A operação, travestida de conveniência, na verdade dribla a fiscalização e burla o controle da Anvisa.
Quando a reportagem pergunta sobre nota fiscal, a resposta é direta: “A única coisa que a gente não fornece é a nota fiscal. Porque, como vocês não têm receita, não tem como comprovar que a receita é de vocês. Aí, se Deus o livre chega a Justiça, fica complicado pra gente dar baixa na nota”.
O pagamento é feito exclusivamente via Pix, o que torna o rastreamento quase impossível. A ausência de recibos e registros forma um ciclo de impunidade que beneficia as drogarias e deixa o consumidor completamente desprotegido.
O ponto mais alarmante da investigação é a oferta de aplicação do medicamento dentro das próprias farmácias. Em diferentes estabelecimentos, funcionários não apenas explicam como usar a caneta, mas se oferecem para aplicar a injeção na hora, sem qualquer preparo técnico ou estrutura adequada.
As condutas flagradas contrariam a Instrução Normativa (IN) nº 360/2025, em vigor desde 23 de junho de 2025.
A norma estabelece que medicamentos à base de tirzepatida, como o Mounjaro, só podem ser vendidos com retenção da receita médica em duas vias, justamente para evitar o uso indevido e o desvio de finalidade estética.
Por meio de nota, a DrogaFuji informou que repudia veementemente qualquer prática que contrarie as normas legais e éticas do comércio farmacêutico.
“Ao tomar conhecimento da denúncia sobre a suposta venda irregular do medicamento Mounjaro, a empresa iniciou imediatamente uma apuração interna para esclarecer os fatos.”