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Segurança

Facções como PCC e Comando Vermelho faturam R$ 10 bilhões com mercado ilegal de um único produto; veja qual

Vista geral da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, um dos alvos da megaoperação policial que deixou 121 mortos na semana passada Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O mercado ilegal de cigarros movimenta R$ 10,2 bilhões por ano, transformados em fontes de financiamento para facções criminosas, entre elas o Comando Vermelho (CV), que utilizam as mesmas rotas logísticas e recursos de outros mercados ilícitos, como os de drogas e armas. Aproximadamente 32% do total de cigarros comercializados no País são ilegais. A informação é do Estadão.

Levantamento inédito da Fundação Getulio Vargas (FGV) demonstra a relação entre o comércio ilegal de cigarros convencionais e o aumento de crimes violentos no Brasil.

Segundo o estudo, cada aumento de um ponto percentual na taxa de ilegalidade dos cigarros está estatisticamente associado a 892 novas ocorrências de tráfico de drogas, 239 homicídios dolosos, 629 apreensões de armas de fogo e 30 crimes de latrocínio (roubo seguido de morte).

Uma das formas que facções historicamente ligadas ao narcotráfico encontraram para conseguir dinheiro é controlar e administrar um território, o que em alguns casos é mais rentável que a venda de drogas. Dessa forma, os traficantes lucram por meio da extorsão de moradores, impondo um monopólio da venda de serviços ou produtos específicos - que vão de cigarros a conexão de internet, incluindo “pedágios” para mototaxistas.

Como mostrou o Estadão, delegacias do Rio de Janeiro são frequentemente procuradas por representantes dos mais variados segmentos do comércio, como grandes distribuidoras de cigarros, bebidas, empresas de telefonia e internet. As empresas dizem que são proibidas, pelos traficantes, de entrar em favelas ou chantageadas a pagar “pedágio” para circular.

Nos últimos anos, investigações da Polícia Federal do Rio mostram que, diante dessa nova organização territorial, o contrabando de cigarro movimentou R$ 5 bilhões entre 2015 e 2024, segundo informações da Polícia Federal.

No Complexo do Alemão, onde houve a megaoperação contra o CV que deixou 121 mortos na semana passada, não entram marcas tradicionais do produto. Todas estão proibidas, pelos criminosos, de serem vendidas em bares e afins.

“Um criminoso armado, com uma máfia por trás, obriga o comércio apenas dos produtos dele. A demanda é controlada por quem manda no espaço”, afirma Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP). No ano passado, conforme o Fórum Antipirataria, o contrabando de cigarro movimentou R$ 175 milhões apenas no Rio de Janeiro.

Números da pesquisa

“O modelo estimou correlações estatísticas, não causalidades, mostrando que o aumento da ilegalidade no mercado de cigarros está associado a maiores taxas de homicídios, tráfico de drogas e outros crimes ligados ao crime organizado”, afirma Renan Pieri, professor de economia da FGV-SP.

As relações foram estabelecidas a partir de um modelo econométrico, ou seja, uso de métodos estatísticos para analisar dados econômicos e fazer previsões. O estudo utilizou a Pesquisa Pack-Swap do Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (IPEC), que mede o percentual de cigarros ilegais para nove Estados, e a base pública do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (SINESP, do Ministério da Justiça).

“Um acréscimo de um ponto percentual de ilegalidade está associado a um aumento de 0,47% nas ocorrências de tráfico de drogas e 0,62% nos homicídios dolosos”, explica Pieri.

Ao aplicar essas variações percentuais às médias anuais nacionais de crimes, os pesquisadores chegaram às seguintes estimativas:

  • 892 ocorrências adicionais de tráfico;
  • 239 homicídios dolosos por ano em todo o país;
  • 9 roubos a banco por ano;
  • 892 ocorrências anuais de tráfico de drogas;
  • 339 roubos de carga por ano;
  • 2.868 roubos de veículos;
  • 629 apreensões anuais de armas de fogo;
  • 30 latrocínios por ano;
  • 2 mortes de agentes do estado por ano.

“Toda essa engrenagem que abastece o crime é resultado da combinação entre demanda constante, fragilidades na fiscalização fronteiriça e urbana e regulação altamente restritiva, pressionando o setor produtivo”, opina Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP).

Perdas gigantescas com evasão fiscal

Além de ajudar a financiar o crime organizado, o mercado ilegal de cigarros é responsável por grande evasão tributária. A perda fiscal total do setor em 2024 foi estimada em R$ 7,2 bilhões, sendo R$ 3,9 bilhões em tributos federais (IPI e PIS/Cofins) e R$ 3,3 bilhões em ICMS estadual e municipal.

Recuperar 50% dessa evasão representaria um incremento de R$ 1,3 bilhão à arrecadação federal, equivalente a 11,8% do déficit primário de 2024.

Para os Estados, isso significaria um acréscimo de R$ 1,4 bilhão em receitas, enquanto os municípios poderiam recuperar cerca de R$ 810 milhões.

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