Para muito além dos descontos indevidos, aposentados ouvidos pela CNN relataram que são alvos frequentes de ligações ininterruptas de pessoas que obtém os dados do INSS, ameaças de cancelamento do benefício e até mesmo inscrição em planos de supostas vantagens e empréstimos consignados à revelia.
As reclamações vem em meio a uma tentativa do INSS para conseguir descobrir o caminho pelo qual empresas e bancos tiveram acesso a dados pessoais dos aposentados, como CPF, nome completo, data de nascimento, número do benefício e, especialmente, telefone.
Os relatos são de que as importunações impactam o dia a dia, assustam, mexem com a rotina e geram dor de cabeça, especialmente por causa das inúmeras tentativas de frear o abuso por meio de sites como o Reclame Aqui, no Procon e até mesmo na Justiça.
A psicóloga Idalucia Garcia, de 71 anos, é viúva e há 40 anos e recebe um salário mínimo de pensão para viver em São Paulo.
Ela conta que uma das empresas chegou a dizer que "já tinha pronta uma apólice de seguros" no nome dela, "seguro de vida, já com todos os dados preenchidos, CPF, endereço e tudo mais".
Dimas Coimbra,71 anos,foi premiado às avessas. No nome dele já foram registradas pelo menos cinco fraudes diferentes. O primeiro foi um suposto cartão concedido com o débito mensal de R$ 120.
A pensionista Claudia Sobral dos Santos, de Bauru (SP), foi uma das que identificou os descontos indevidos.
No caso dela, no entanto, não foi possível ainda cadastrar-se para receber de volta porque houve um erro na hora de preencher os dados do aplicativo.
Foram R$ 80 por mês descontados de uma associação que ela desconhece e nunca autorizou, até que ela entrasse no aplicativo do INSS e descobrisse que estava sendo furtada sem nem perceber.
Para entender como os dados pessoais dos aposentados chegaram às mãos de empresas, bancos e entidades sem ligação com o INSS, a CNN consultou o especialista em cibersegurança Carlos Alberto Costa, CEO da JC2Sec e presidente do Instituto Brasileiro de Segurança, Proteção e Privacidade de Dados. Para ele, a maior probabilidade é um problema dentro do próprio INSS.
O especialista ainda cita que em uma investigação de 2023 do Tribunal de Contas da União, o INSS declara que havia mais de 400 credenciais dos seus sistemas internos comprometidos e que ainda há o risco de terceiros, de parceiros de negócio do INSS, "que também são portas de entrada", além do risco "na cadeia de terceiros, também como originadores de vazamento de dados".
Somadas às falhas técnicas e vulnerabilidades, não se descarta a possibilidade de um hacker entrar nos sistemas da instituição, segundo Costa.
Em entrevista à CNN, Gilberto Waller, destacou que há uma investigação em curso para tentar entender como os dados foram parar nas mãos de golpistas.
"A Polícia Federal está verificando como essas entidades conseguiam a lista de aposentados e pensionistas, a CGU também e os órgãos de controle estão tentando verificar a forma como é vazado esse tipo de informação", disse ele.
O presidente da instituição ressaltou que também há um trabalho interno para cessar possíveis vazamentos.