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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja transmitir um recado direto a Donald Trump em uma reunião presencial que está em preparação: uma ofensiva militar dos Estados Unidos contra a Venezuela poderia desencadear uma onda de instabilidade política e fortalecer o crime organizado em toda a América Latina. Segundo um alto funcionário do governo brasileiro, Lula pretende frisar que qualquer ataque ao território venezuelano teria consequências para além das fronteiras do país governado por Nicolás Maduro, afetando diretamente a segurança regional.
Na conversa, Lula também deve questionar a lógica de uma intervenção para promover “mudança de regime” em Caracas, sustentando que a estratégia pode produzir efeitos contrários aos que Trump alega buscar. A preocupação cresceu após o presidente americano confirmar, na quarta-feira (15), que autorizou a CIA a conduzir operações secretas com o objetivo de derrubar Maduro. Além disso, os EUA deslocaram navios de guerra para o mar do Caribe e afirmam ter atacado embarcações venezuelanas classificadas como narcoterroristas.
Ainda não há definição sobre local e data do encontro entre os dois líderes, que conversaram nos bastidores da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, e iniciaram tratativas para uma reunião bilateral. O governo brasileiro tem interesse em que a reunião aconteça ainda em 2025, de preferência antes que pressões políticas internas — como as do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) — possam dificultar a aproximação. A expectativa é de que os dois discutam também tarifas e sanções impostas aos produtos brasileiros.
Uma das possibilidades é que a reunião ocorra paralelamente ao encontro da Asean, na Malásia, nos dias 26 ou 27 de outubro. Caso as agendas não coincidam, um plano alternativo é um encontro durante a Cúpula das Américas, marcada para o início de dezembro em Punta Cana, na República Dominicana. A participação de Trump ainda é incerta. O evento, no entanto, é visto com cautela pelo Itamaraty, já que o governo dominicano, sob pressão de Washington, excluiu Cuba, Venezuela e Nicarágua da lista de convidados — decisão que levou o presidente colombiano, Gustavo Petro, a anunciar boicote.
O Brasil tem defendido a busca por uma solução diplomática para a crise venezuelana. Em telefonema recente, Lula apresentou essa posição a Trump e reafirmou que não vê na oposição liderada por María Corina Machado — laureada com o Prêmio Nobel da Paz — força política suficiente para substituir o regime chavista. A avaliação do Planalto é que, sem uma alternativa sólida, uma intervenção externa apenas aprofundaria o cenário de instabilidade e poderia ter reflexos em toda a região.
Com informações da Folha de S.Paulo