É difícil acompanhar os balanços financeiros do futebol brasileiro e não se impressionar com a discrepância entre clubes e a CBF. Em 2024, a Confederação acumulou nada menos que R$ 2,4 bilhões em caixa. É um salto gigantesco em relação ao ano anterior, quando já tinha R$ 1 bilhão guardado. Boa parte desse incremento veio da renovação contratual com a Nike: R$ 435 milhões em antecipação por dois anos e mais R$ 920 milhões em bônus pela extensão da parceria.
Enquanto isso, clubes grandes e pequenos seguem girando pratos para não quebrar. Alguns fecham o ano com R$ 10 milhões negativos, outros vivem de empréstimos, antecipações de cota e acordos trabalhistas parcelados em anos. Até o Flamengo, o mais rico, terminou 2024 com R$ 92 milhões em caixa – o que não representa nem 4% da reserva da CBF. A confederação, sozinha, vale 26 Flamengos em dinheiro guardado.
O mais curioso é que, diferente dos clubes, a CBF não precisa gastar com elenco, salários, direitos de imagem ou comissões de empresários. Também não lida com protestos por falta de pagamento, não tem processos trabalhistas de atletas e nem torcedores cobrando resultado em rede social. Mas é ela quem fatura com a Seleção, atrai patrocinadores milionários e ainda recebe bônus em valor de mercado que nenhum clube do país consegue sequer negociar.
Boa parte da receita da confederação vai para os próprios custos operacionais, para as seleções de base, masculina e feminina, e para as federações estaduais, que também seguem à margem de qualquer crise. Os clubes, esses sim, continuam devendo salários, adiando contas e sonhando com uma vaga na Copa do Brasil para pagar a folha do mês.
A CBF nada em dinheiro enquanto os clubes se afogam. E o futebol brasileiro, no meio disso tudo, vai tocando do jeito que dá.
