Setembro Amarelo: qual o papel dos pais na saúde mental dos filhos?

09 de Setembro 2024 - 14h30

O Setembro Amarelo é a campanha mundial de promoção da saúde mental e prevenção ao suicídio. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a entidade, o suicídio é a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos. O texto é da CNN.

A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), da OMS, enfatiza que as consequências de não abordar as condições de saúde mental dos adolescentes podem se estender à idade adulta, prejudicando a saúde física e mental e limitando futuras oportunidades. Por isso, a promoção da saúde mental é fundamental ainda na infância e na adolescência, e os pais possuem um papel importante nesse processo.

“É pré-requisito que os pais e/ou a rede de suporte conheçam seus filhos. Pode parecer óbvio, mas a conexão afetiva precisa existir, além da convivência na rotina da criança para se entender como é sua personalidade, seus gostos e suas reações mais comuns”, afirma Filipe Colombini, psicólogo parental e CEO da Equipe AT, empresa com foco em acompanhamento terapêutico, à CNN.

 

Como identificar sinais de depressão e outros transtornos psiquiátricos nos filhos?

Segundo Lilian Vendrame, psicóloga e neuropsicóloga, crianças saudáveis gostam de brincar e, geralmente, têm humor animado. Ao notar mudanças de humor e comportamento, tristeza que persistente, desinteresse por atividades que antes gostava de fazer, alterações no apetite e no sono, além de queixas persistentes na escola, é importante ficar alerta.

“Uma coisa muito interessante da gente falar é sobre o comportamento das crianças na escola. A criança começa a pedir para ir embora com dor de cabeça ou com dor de estômago. São coisas que chamam bastante a atenção na escola. Além disso, também começamos a perceber a dificuldade de a criança se concentrar, o desempenho que era bom e começa a declinar, ela fica sozinha, evita os amiguinhos na escola e começamos a perceber mudanças na autoestima”, elenca a neuropsicóloga.

Porém, os sinais de alerta podem variar de uma criança para outra. “O que é comum são mudanças bruscas ou graduais no jeito da criança. Por exemplo, se uma criança muito agitada começa a ficar mais quieta e isolada, ou se uma que é mais introvertida começa a ficar mais agitada”, exemplifica Columbini. “Pode haver também alterações nos comportamentos de rotina; a depender da fase de desenvolvimento, começa a se expressar por meio de desenhos e brincadeiras ou verbalizando falas de autodepreciação, culpa e raiva de uma forma diferente do habitual”, completa.

Nos adolescentes, os sinais podem ser semelhantes, mas por terem um maior desenvolvimento neurobiológico, eles podem conseguir se expressar melhor. “Entretanto, como estão em uma fase de distanciamento maior da figura dos pais e uma maior proximidade e conexão com os amigos, é comum se esquivarem de falarem sobre seus sentimentos, sensações e dificuldades nas próprias casas”, alerta o psicólogo.

Além disso, a adolescência é marcada por fortes alterações hormonais, o que pode tornar mais comuns episódios de irritabilidade e isolamento social. Portanto, a atenção dos pais e a proximidade com os filhos será ainda mais importante nessa fase.

“É comum perceber que o adolescente usa as redes sociais, mas começa a usar demais”, exemplifica Vendrame. “É legal prestar atenção nesse comportamento, porque o tédio pode significar dificuldades de lidar com a autoestima e dificuldades de lidar com as próprias dificuldades da adolescência”, alerta. Segundo a neuropsicóloga, esse tipo de comportamento pode esconder um transtorno ansioso depressivo.

Outros sinais de alerta na adolescência incluem alterações no sono e na rotina alimentar, além do aumento na agressividade e nos comportamentos de riscos. “O uso de drogas e de bebidas diz muito sobre dificuldades com a autoestima e de controle de impulso. Por isso, é muito importante que a gente preste atenção. Parece normal e adolescentes vão, sim, para festas, começam a conhecer a bebida, e a droga está ali no meio deles, mas é muito importante prestar atenção nesse uso e no que está acontecendo”, alerta Vendrame.

Alguns sinais de alerta podem apontar, também, para inseguranças com o próprio corpo. “Um ponto importante de perceber é se o adolescente está usando um agasalho no verão, por que será que ele tá usando esse agasalho no verão? O adolescente só usa calça e não usa uma bermuda? Essa adolescente, ela usa uma blusa mais curta? Não usa? Ela tem muita dificuldade de mostrar as pernas, barriga e braço? São coisas que nos chamam a atenção, porque pode estar ocorrendo a automutilação e a gente não está percebendo”, descreve.

 

Papel dos pais no tratamento da depressão e apoio à saúde mental

O primeiro passo para os pais ajudarem na promoção de saúde mental dos filhos é a aproximação afetiva. Segundo Columbini, isso pode ser feito por meio de brincadeiras lúdicas, no caso das crianças, e de conversas, revelações e contato físico respeitoso.

“É fundamental conhecer o comportamento do filho antes de se ter a depressão, ou seja, o vínculo é fundamental para se perceber as mudanças, seja nos comportamentos, seja nas rotinas de casa, da escola”, afirma o psicólogo.

No caso dos adolescentes, o contrário pode acontecer: ao invés de os pais abordarem o assunto com os filhos, eles próprios podem pedir ajuda de profissionais de saúde mental para abordar o assunto com os pais. “Eu conheço muitos adolescentes que me buscam com dificuldade de falar para os pais que eles precisam de ajuda, porque os pais querem que eles falem com eles. Muitas vezes, os filhos vão ter vergonha de contar as coisas”, relata Vendrame.

Nesse aspecto, o processo terapêutico passa a ser fundamental na vida e na saúde dos adolescentes. “A terapia vai ajudar o adolescente a colocar para fora, primeiro no processo terapêutico, e depois para os pais. Como eles são menores de idade, esse profissional também vai chamar esses pais se o que o adolescente trouxer for algo grave”, afirma a psicóloga.

 

Cuidado com o que não deve ser abordado com os filhos durante o processo terapêutico

Alguns cuidados são importantes na abordagem da depressão e outros problemas de saúde mental com os filhos. Um dos primeiros passos é não minimizar os sentimentos da criança e do adolescente. Em seguida, oferecer escuta, mas sem o pressionar para conversar.

“Não pressione o seu filho a falar sobre os sentimentos se ele não estiver pronto. Então, por exemplo, você pode falar: ‘percebi que você está triste, você quer falar sobre isso?’. Se a resposta for: ‘Não, não quero’, e sai de perto. Outro dia, convide seu filho para fazer uma atividade de que ele gosta, como tomar um sorvete ou passear em algum lugar de que ele goste. Abra essa comunicação com ele”, sugere Vendrame.

Críticas e julgamentos também devem ser evitados. “Não é indicado colocar a culpa na criança ou no adolescente, nem fazer comparações com outras pessoas”, alerta Columbini. “A depressão precisa ser encarada como um assunto de saúde mental e existem profissionais habilitados para oferecer todo suporte e tratamento (para os pais e para os filhos)”, completa.

Outro passo importante é criar um ambiente em casa que promova o bem-estar e a estabilidade emocional. Por fim, é fundamental se educar sobre depressão e ansiedade, além de outros transtornos psiquiátricos, para compreensão total do assunto e dos sentimentos do filho.

“É preciso entender também que, muitas vezes, a depressão é um processo químico, que realmente exige uma consulta psiquiátrica e medicação. Então, é preciso entender melhor cientificamente sobre o assunto e se livrar de alguns preconceitos que estão muito relacionados com a saúde mental”, finaliza Vendrame.

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